sábado, 18 de julho de 2020

Por Onde Andei


Professor Henrique José de Souza

Muitos turistas que visitam São Lourenço já me perguntaram quem foi o teósofo Henrique José de Souza, espiritualista que nasceu em Salvador, Bahia, em 1883, e desencarnou em São Paulo, no ano de 1963. Querem saber se ele foi um educador ou se foi só um homem que tinha, para a sua época, uma capacidade intelectual muito aguçada e ensinou os conhecimentos que acumulou ao longo de sua vida como estudioso da cultura humana. Consciente de que todos nós temos um compromisso com a divulgação da arte e da cultura, sempre respondi assim: educar, qualquer pessoa educa. Todos nós ensinamos o mal e o bem com nossas atitudes e opiniões diárias. Por isso, passamos uma vida inteira tentando corrigir nossos erros do passado. Pessoas há, no entanto, que ultrapassam essa função espontânea de ensinar, inconscientemente, o bem e o mal, e incorporam a atitude intencional de propor a transformação da pessoa pelo conhecimento. Henrique fez isso, propôs que as pessoas precisam "transformar vida energia em vida consciência", para que possam vislumbrar um novo estado de consciência e aperfeiçoar seus comportamentos em relação a si mesmas e para com o próximo. Esta proposta é a base da teosofia henriqueana. Não é à toa que o chamam de "professor" ou "o professor". Existem intelectuais e pensadores, como é o caso de Henrique, que estudaram muito, aprenderam a aprender sozinhas, desenvolveram a autonomia cognitiva, aquela que o filósofo Schopenhauer aponta como sendo a habilidade mais importante que se pode adquirir durante o processo de escolarização acadêmica, e fizeram escola com o entendimento que tiraram da vida, dos estudos e das percepções pessoais. Assim procederam Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Chico Xavier, Luiz Goulart e outros pensadores e filósofos inovadores, cada um na sua área de atuação. Já Henrique, que elegeu a cidade de São Lourenço, MG, como Capital Espiritual do Brasil e berço de uma nova civilização, julgo que ele desenvolveu a autonomia espiritual, enxergou a vida com seu olhar próprio, verbalizou suas conclusões, suas intuições, suas clarividências, e, com muita habilidade, configurou uma egrégora espiritualista que fez escola. Se os materialistas e os ateus não concordam com sua filosofia, aí é outra coisa. A mim, enquanto pesquisador, não cabe concordar ou discordar. Parto deste princípio: quem não tem competência, não se estabelece, e uso a palavra competência no mais amplo sentido pedagógico proposto pelos documentos oficiais da Educação, aquele no qual as equipes pedagógicas das escolas têm como princípio orientador ajudar os educandos a desenvolver as competências e habilidades que os ajudarão no desenvolvimento da autonomia necessária e indispensável para a contínua autocapacitação, conforme é o desejável na formação acadêmica e na vida profissional. Além disso, segundo o sociólogo Emile Durkheim, quem se estabelece, e aqui estou dialogando sobre educação, cria um fato social na comunidade, e os fatos sociais são legítimos e inquestionáveis do ponto de vista da utilidade pública. Sem dúvida, a filosofia de Henrique é um fato social, existe, é estudada e é citada, assim como eu a estou citando. Trata-se, pois, a filosofia henriqueana, de um bem imaterial de utilidade social, educativa e capaz de melhorar o relacionamento entre os indivíduos. Dentre outras peculiaridades dos seus ensinamentos, para nos atermos ao fato social, podemos citar que ele descobriu a espiritualidade avançada de Chico Taquara (1840-1916), cujo nome verdadeiro é Francisco de Góes Gonçalves, e desde então o personagem citado tem sido considerado um guardião espiritual da cidade de São Thomé das Letras, gerando movimento turístico na cidade. Essa descoberta cultural foi importante não só para o desenvolvimento do turismo na cidade, mas vem incentivando muitas gerações de jovens a buscarem uma proposta de vida não fundamentada no capitalismo e no materialismo. Como se deu isso? Foi, provavelmente, na década de 1920 (ou teria sido antes?) que o teósofo apontou Chico Taquara como um espírito que ocupava uma função de guardião espiritual daquela cidade. Hoje, passados 100 anos, é conhecido, através de outras fontes, o engajamento de Chico Taquara na filosofia Vedanta (que postula a unidade da vida e a unidade do universo). Os Vedas, nos quais se baseia a filosofia Vedanta, foram escritos por volta de 2000 a.C., e a tradição védica foi classificada pela UNESCO, em 2008, como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Chico Taquara, portanto, não era um eremita qualquer. Ele ocupava uma posição espiritual de convergência com a teosofia henriqueana. Ele trabalhava o desenvolvimento da superconsciência com conhecimento de causa, tal qual o fizeram os mais famosos yogues do Hinduísmo. Talvez possamos denominar esta descoberta cultural de Henrique de um talento natural ou de uma visão social futurista. Supomos que ele pode ter ido a São Thomé das Letras e ter conhecido pessoalmente o místico Chico Taquara, pois, se dermos razão às vozes do público que o admira, ele substituiu o anacoreta na função de impulsionador da evolução. Argumenta-se que ele não citaria com tanta propriedade as qualidades espirituais de Chico Taquara, chamando-o de Adepto, sem conhecê-lo. O termo Adepto, usado pelo filósofo para designar as habilidades cognitivas de Chico Taquara, significa que se trata de alguém que desenvolveu pelo menos 25% da consciência, o que é muito, considerando que os intelectuais mais inteligentes da história não ultrapassam os 10%. Diz-se que Chico Taquara desapareceu da cidade de São Thomé das Letras em alguma data anterior a 1930. Não se fala que ele morreu lá e não se sabe para onde ele foi. Em 1921, o filósofo Henrique fez um juramento em São Lourenço de estabelecer no planeta Terra uma escola de filosofia dedicada à evolução espiritual da humanidade. Provavelmente, já visitava anteriormente toda a região. Por causa disso, argumenta-se, hipoteticamente, que nas suas andanças teria ido a São Thomé das Letras e conhecido pessoalmente Chico Taquara.  Outra habilidade importante na biografia do filósofo é que ele descobriu o potencial da cidade de São Lourenço para se projetar como a maior estância hidromineral do Brasil. Portanto, lá fixou a sua escola, fato este que impactou positivamente no desenvolvimento social, cultural e turístico do município. É inegável que ele era dotado de uma acentuada inteligência espiritual, essa que atualmente faz parte da lista de inteligências múltiplas listadas pelo psicólogo Howard Gardner. Não sei se podemos afirmar que Henrique foi um gênio. Mas é inegável que sua obra é genial. Sem dúvida, como se fala nos bastidores, seus conhecimentos foram inspirados por uma falange de espíritos muito inteligentes. Está bem estabelecido nos meios espiritualistas o argumento de que uma obra espiritualista não nasce na Terra, ela desce para a Terra e se alastra, servindo-se de canais apropriados para se materializar. Esse grupo de estudiosos, liderado pela liderança e pelo talento de Henrique, foi o canal e a inspiração do nascimento da filosofia henriqueana. Outra característica importante do fato social é que ele sempre está fundamentado em documentos históricos anteriores produzidos pelos mais renomados autores da área. De
 fato, considerando esta tese científica, Henrique abriu sua escola de estudos espiritualistas fundamentando-a nos mais antigos autores metafísicos, teológicos e espiritualistas que a humanidade produziu. Sem dúvida, e não há como negar, Henrique foi um espírito que despertou a atenção da sociedade para os seus ensinamentos. Nas suas palavras, o homem sábio "é aquele que não fica radicado nas mesmas ideias", mas as usa para criar outras mais atualizadas. Piaget, na mesma linha de pensamento, afirmou que "o principal objetivo da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram". Paulo Freire segue a mesma linha de pensamento. É evidente, pelo exposto, que existe uma transversalidade da pedagogia espiritualista henriqueana com a Ciência e com toda a cultura universal que pretende transformar o ser humano num indivíduo mais evoluído. Concluo que, se muitas pessoas aprenderam e aprendem com com seus ensinamentos, e não se trata de uma hipótese, mas de uma evidência, é óbvio que ele foi um educador. Tal foi a resposta que eu dei aos turistas que me indagaram se Henrique foi um educador. E disse mais: sua filosofia de vida se expandiu pelo mundo e conquistou seguidores em todos os setores do conhecimento humano. Como então, sendo pedagogo, eu classificaria o teósofo Henrique? Não tenho a menor intenção de classificar ou definir "o professor", bem como não tenho estudo suficiente para o avaliar. Eu só posso seguir os textos científicos e oficiais da Educação que orientam no sentido de não classificar ou rotular pessoas e conhecimentos, principalmente quando o termo tem um bojo pejorativo de discriminação da moralidade, da cultura ou das crenças do outro. Olhando-o com isenção de espírito, apreendemos do seu perfil que ele foi filósofo, educador, pensador, poeta, ator, político e quantos mais predicados quisermos colocar em sua biografia. O importante é sabermos que ele foi alguém que fez a diferença na sociedade onde viveu. Criou um fato social. Cada um que o coloque dentro do contexto que faz a diferença para si. Sem dúvida, em termos de turismo, nunca se poderá separar a figura de Henrique e seus ensinamentos, do desenvolvimento do turismo nas estâncias hidrominerais, notadamente em São Lourenço e São Thomé das Letras. Logo, o fenômeno da educação é um fato social, conforme assinalou Emile Durkheim, o pai da Sociologia, e é disso que estamos falando quando fazemos comentários sobre a filosofia de Henrique: ela é um fato social!









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