segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Por Onde Andei


André Luiz e o Umbral

Nos livros de Chico Xavier, inspirados pelo espírito de André Luiz, observamos a tese de que violência gera violência. O espiritismo prega o amor, a compreensão e a tolerância. O pensador Luiz Goulart sempre repetia que só o amor constrói para a eternidade. O amor vem de Deus e é uma essência eterna. Por isso, o espiritismo também enfatiza que só o amor constrói para a eternidade. Quando não somos tolerantes, nos tornamos vítimas da nossa própria intolerância, como num caso que aconteceu no Rio de Janeiro. Na década de 60, as mulheres começaram a usar calça comprida. No entanto, muitos pais proíbiam suas filhas de usá-las. Um homem muito temente a Deus, que se dizia obediente aos mandamentos do Evangelho, justificava sua intolerância com a citação de passagens bíblicas. E tinha boa intenção. Certa vez, ele espancou a filha porque ela saiu de casa usando vestido, mas com a calça comprida escondida dentro da bolsa. Chegando na casa da colega, a moça tirou o vestido e vestiu a calça comprida. Ela morria de medo do pai, que, embora espírita, era conservador e violento. Ele, bem intencionado, se achava defensor dos bons costumes. A filha agiu dessa maneira para que ele não soubesse de nada. Mas, infelizmente, ele descobriu. Chegou de surpresa no clube onde a filha frequentava. Lá estava ela usando a calça comprida. Então ele a maltratou dentro do clube, na frente de muitas pessoas. E, mais ainda, como forma de castigo, passou a trancá-la no quarto quando saía para o trabalho. A esposa sofria muito com as atitudes violentas do marido. Não obstante discordar dele, não podia fazer nada para detê-lo, porque ele também era bruto com ela. O infeliz sentia-se o salvador da ética e da moral. Queria parar a evolução do mundo. Achava-se autorizado pela Bíblia e pela doutrina espírita de Kardec. Essa situação se arrastou por muitos anos, mesmo depois que quase todas as mulheres do Rio de Janeiro já haviam adotado a calça comprida. Por fim, o homem morreu. A filha e a mãe, livres da autoridade violenta e desrespeitosa dele, começaram a frequentar um centro espírita kardecista Bezerra de Menezes, no bairro onde moravam, o qual era administrado pelo Dr. Valter, um médico piedoso que atendia a todos. A questão da calça comprida foi motivo de muito desgosto naquela família. Ocorreu que aquele pai, desencarnado, ficou preso no umbral, sofrendo, desesperado, reconhecendo que errou muito, mas ainda querendo ainda tomar conta da vida da esposa e da filha. Foi então que recorreu aos médiuns daquele centro espírita. Aparecia nas sessões e mandava recados para a esposa e a filha, pedindo que se preservassem das modas indecentes da sociedade. O Dr. Valter e sua equipe de médiuns procuravam orientá-lo, sempre que ele aparecia nas sessões. Diziam que ele devia seguir o seu caminho espiritual e se desapegar dos problemas da Terra. Foi um tratamento difícil e demorado. Quando, por fim, ele caiu em si e descobriu que estava fazendo mal para si e para a família, começou enviar mensagens para a filha e a esposa, pedindo perdão, confessando-se errado, admitindo suas injustiças. Dizia que, se estivesse vivo, faria tudo para mudar a situação, mas era tarde. E o remorso o atormentava. Avisou que teria que reencarnar muitas vezes para quitar o seu débito de violência contra a família, fora outros débitos de intolerância com as mudanças da sociedade. Mas, sob a interveniência da ação esclarecedora dos médiuns daquele centro espírita, aquela alma seguiu seu caminho no Plano Espiritual e deixou a esposa e a filha em paz. Mas precisamos colocar aqui a advertência de que não somos tão diferentes. Em muitas ocasiões as pessoas gostariam também de parar o mundo e impedir o vir a ser, a evolução e as mudanças. Segundo a doutrina dos espíritos, não podemos castigar as pessoas por causa das transformações que a sociedade e a vida impõem. Aquele pai queria castigar na filha as mudanças sociais da época, achando que agia certo. Mas estava errado. Contraiu um enorme débito moral para quitar em futuras reencarnações. Deve-se aprender a caminhar junto e aceitar as mudanças sociais. Os espíritos encarnados não são feitos de concreto. Não se pode usar de violência para punir o semelhante, e achar que vai ficar impune. Violência gera mais violência. O espiritismo é uma doutrina de amor e de observação da justiça.









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