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Dr. Ivon Costa clinicando na França (1929). |
Dr. Ivon Costa nasceu na Cidade de São Manuel, em Minas Gerais, atualmente Eugenópolis, no dia 15 de julho de 1898 e desencarnou em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no dia 9 de janeiro de 1934. Médico formado pela Escola Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, Ivon Costa clinicou no Brasil até 1927, data em que, movido pelo desejo de conhecer outros países, se inteirar dos avanços da medicina no mundo e divulgar o Espiritismo, com apenas 29 anos ele se mudou para a Europa, onde conheceu várias personalidades da elite intelectual, algumas adeptas do Espiritismo, outras, pesquisadoras dos vários sintomas da histeria e suas causas. Permaneceu no continente europeu por 5 anos. Residiu em Portugal, Alemanha e Paris. Na capital francesa, trabalhou como intérprete de cinema na Paramount Pictures Corporation, fundada em 1912 nos Estados Unidos, de cujo trabalho obtinha os recursos financeiros para se sustentar no estrangeiro e implementar sua missão de defensor internacional da Lei de Reencarnação dos espíritos. Em Paris, conheceu um dos grandes entusiastas e financiadores do Espiritismo, Jean Meyer, filósofo e espiritista. Nascido em Riken, Suíça, em 8 de julho de 1855 e desencarnado em Béziers, França, em 13 de abril de 1931, além de filósofo, Jean Mayer foi escritor, pesquisador e filantropo suíço radicado na França e se destacou como um dos mais importantes divulgadores do Espiritismo no início do século vinte. Ivon Costa, por sua vez, beneficiado pela influência e amizade de Jean Mayer, se engajou na elite dos movimentos espíritas europeus, com participação ativa. Naquela ocasião, como médico, atendeu pacientes relacionados com o meio social espírita onde transitava, tratando inclusive as doenças psicológicas, também chamadas de doenças espirituais, normalmente oriundas dos comportamentos negativos reprimidos no inconsciente de vidas passadas. Em 1930, Jean Mayer compôs a mesa diretora do Congresso Espírita Internacional de Haia, na Holanda, realizado entre os dias 4 e 10 de setembro daquele ano, além de ter sido o vice-presidente do evento, e convidou o jovem médico Ivon Costa para participar das discussões que envolviam o advento do Espiritismo como doutrina que procurava explicar cientificamente as verdades contidas nos evangelhos, separando-as das lendas, ou até explicando as lendas à luz da filosofia. Em 13 de abril de 1931, Mayer desencarnou. Sua morte foi veiculada pelo Revue Métapsychique, Número 2, março-abril, de 1932. Mas, no decorrer desses grandes eventos, Meyer promoveu muitos encontros regionais na Europa, com palestras doutrinárias e exposições diversas em favor dos fundamentos espíritas, e Ivon Costa, que era poliglota, foi um dos conferencistas escolhidos por Jean Mayer. Proferiu conferências em Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e em França, onde falou na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, entidade fundada por Allan Kardec em 1858. Antes disso, já na Europa desde 1927, Ivon Costa participou do Congresso Espiritualista de Londres, realizado em 1928, no qual Jean Mayer pronunciou as seguintes palavras: “É pela união da Ciência com o Espiritismo, com essa fé racional que ele nos dá, auxiliando-se um ao outro, que chegaremos a uma compenetração cada vez mais justa e sempre mais elevada, da obra de Deus”. Como médico, Ivon Costa também foi movido ideologicamente pela percepção da união do Espiritismo com a ciência, e, por isso, procurava se atualizar com as novidades terapêuticas do campo da medicina que circulavam na Europa. Jean Mayer o aconselhou que se inteirasse das descobertas do dr. Freud por se tratarem de investigação da alma e poderia ser um caminho para aproximar o Espiritismo da Ciência no campo da medicina. Na época, os médicos se ocupavam com as questões da histeria, uns achando que se tratava de sintomas simplesmente orgânicos, outros, como Charcot e Freud, acreditando que eram causados por traumas psicológicos reprimidos e arquivados no subconsciente, cujas pesquisas nesse último sentido foram encabeçadas por Freud, originando a teoria psicanalítica moderna, e, com certeza, Ivon Costa, seguindo o conselho de Jean Mayer e aproveitando sua estadia na Alemanha, não deixou de ir visitar o fundador da psicanálise, Sigmund Freud, no seu antigo consultório na Áustria, localizado na Rua Berggasse, número 19, onde o psicanalista atendeu seus pacientes por 47 anos. Entre 1891 e 1936, Freud viveu num apartamento do segundo andar desse endereço, em Viena, com sua família. O local, porém, não era apenas a residência do médico neurologista e fundador da teoria psicanalítica; era também o local onde funcionava o seu consultório. Naquela época, o Doutor Charcot e Freud utilizavam a hipnose como tratamento para investigar o inconsciente e conhecer as causas da histeria. No entanto, o fato de Freud ser ateu, foi um entrave ideológico que não permitiu o entendimento cordial entre os dois médicos, pois Ivon Costa era cristão, médium, espírita e reencarnacionista. Ele concebia que as manifestações psíquicas originadas a partir dos arquivos psicológicos das vidas passadas da pessoa embora inconscientes, também influenciam o inconsciente pessoal e podem produzir sintomas de histeria, resultando que, na sua concepção, o estudo das histerias deveria ser auxiliado pela regressão hipnótica relativa às vidas passadas do paciente, diagnosticando-se, assim, as causas das paralisias, cegueiras, estados de ausência de consciência, tiques nervosos, alucinações, entre outros sintomas que caracterizavam as crises de histeria. Mas Freud não acreditava em reencarnaçõe e nem em vidas passadas. Quando Ivon Costa mencionou a questão da influência psicológica do inconsciente de vidas passadas como possíveis de causar sintomas de histeria, numa conversa de médico para médico, percebeu que não houve empatia de Freud para com seus argumentos, então, talvez decepcionado, se restringiu a conversar sobre os efeitos da hipnose na cura dos pacientes histéricos, e Freud mencionou que estava trocando a hipnose pela conversação. Depois disso, ivon Costa desistiu de continuar procurando Freud. No entanto, a questão da união do Espiritismo com a Ciência, defendida por Jean Mayer no Congresso Espiritualista de Londres, de 1928, e apoiada por Ivon Costa, não era um pressuposto que fizesse parte dos estudos daqueles médicos em torno dos sintomas psicológicos do inconsciente, e, por causa disso, o médico brasileiro não encontrou um ambiente propício para desenvolver e defender suas ideias terapêuticas, dedicando o resto de sua passagem pela Europa exclusivamente ao esforço por disseminar o Espiritismo e a doutrina da Lei de Reencarnação. Todavia, é necessário mencionar que ele defendia a tese de que o psiquismo humano sofre influência do inconsciente pessoal, do inconsciente coletivo (teoria esta defendida por Jung e que foi a causa principal da divergência entre ele e Freud) e também, como espiritista, das memórias de vidas passadas do espírito, inconscientes, mas guardadas secretamente no inconsciente espiritual. Foi dessa forma que desenvolveu a abordagem do inconsciente de vidas passadas, tema que é respaldado pelo Espiritismo. Com a morte de Jean Mayer, em 13 de abril de 1931, no ano seguinte Ivon Costa retornou definitivamente ao Brasil, sentindo que havia cumprido sua missão. Estava um pouco com a saúde abalada, embora fosse jovem. Fixou residência em Porto Alegre. Desencarnou em 9 de janeiro de 1934. Portador de uma mediunidade avançada e de uma clarividência espiritual fortíssima, durante uma palestra espírita na Alemanha Ivon Costa viu o espírito do escritor Leon Tolstoi entrar no ambiente onde ele falava, e o espírito o mediunizou, tornando-se seu mentor, e, na mesma ocasião, revelou ao médico brasileiro que na vida passada ele havia sido o filósofo e religioso Giordano Bruno, o qual viveu na Itália e percorreu toda a Europa difundindo sua crença na doutrina da Lei de Reencarnação e irritando o clero, o que resultou na sua condenação, sendo, consequentemente, queimado na fogueira da Santa Inquisição da Igreja Católica. Sua profunda humildade o fez guardar segredo sobre esta e outras informações. Mas ele, após muitos estudos e reflexões, entendeu que a sua vida foi fortemente marcada pelo inconsciente de vidas passadas e que seu talento e facilidade para aprender diversas línguas, bem como sua vocação para a oratória e a mediunidade, resultaram de suas experiências de encarnações passadas e de sua necessidade de completar a sua missão doutrinária iniciada como Giordano Bruno, na Itália, e interrompida em 8 de fevereiro de 1600, aos 52 anos, pela violência e insanidade da Santa Inquisição da Igreja católica que o condenou a ser queimado vivo na fogueira. Ele se sentia possuído por um inconsciente espiritual que o estimulava e o movia para viajar e divulgar a doutrina espírita, e esse anelo não resultava apenas da leitura dos livros espíritas que seu pai estudava e escondia com medo do preconceito e da represália dos católicos. Assim, o estudo da psicanálise associado ao pensamento de Ivon Costa leva em conta que o inconsciente de vidas passadas ou inconsciente espiritual é formado pelas informações e necessidades morais de corrigir traumas e desejos da vida anterior, bem como pelas informações do projeto de vida que o espírito cria antes de reencarnar. Dessa forma, Ivon Costa, no seu anteprojeto de nascimento no Brasil, complementou a sua proposta de divulgação da lei de reencarnação, interrompida na vida passada como Giordano Bruno, ocasião em que, como monge, impulsionou o advento do Espiritismo, o qual só foi mesmo materializado como doutrina a partir da publicação do Livro dos Espíritos, pelo pedagogo Allan Kardec, em 1857. Dessa maneira, como revelado pelo espírito de Leon Tolstoi, a vida de Ivon Costa foi a complementação ou a continuidade da sua encarnação anterior como filósofo e matemático Giordano Bruno, na Itália. De volta ao Brasil, Ivon Costa clinicou no Rio Grande do Sul, atendendo gratuitamente os pobres e, quando possível, doando o dinheiro dos remédios que eles não podiam comprar.
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