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Dr. Ivon Costa: Uma Trajetória Entre a Medicina e o Espiritismo
Nascido em São Manuel, Minas Gerais (hoje Eugenópolis), em 15 de julho de 1898, Ivon Costa foi um médico que deixou sua marca tanto na medicina quanto no espiritismo. Formado pela Escola Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, ele clinicou no Brasil até 1927, ano em que, aos 29 anos, partiu para a Europa. Seu objetivo era triplo: aprimorar seus conhecimentos médicos, conhecer novas culturas e divulgar a doutrina espírita.
A Jornada Europeia e a Conexão com Jean Meyer
Durante cinco anos, Ivon Costa viveu em Portugal, Alemanha e Paris. Na capital francesa, para se sustentar, trabalhou como intérprete na Paramount Pictures Corporation. Foi em Paris que ele conheceu Jean Meyer, um filósofo, escritor e filantropo suíço, radicado na França. Meyer, um dos mais importantes divulgadores do espiritismo no início do século XX, tornou-se um grande amigo e mentor de Costa.
A amizade com Meyer abriu portas para Ivon Costa nos círculos da elite espírita europeia, onde participou ativamente de eventos e debates. Na época, como médico, ele atendia pacientes do meio espírita, tratando de doenças psicológicas — que, em sua visão, muitas vezes eram oriundas de comportamentos reprimidos de vidas passadas.
Em 1930, Jean Meyer, que era vice-presidente do Congresso Espírita Internacional de Haia, convidou Ivon Costa para participar das discussões. O evento, realizado na Holanda, buscava explicar o espiritismo como uma doutrina que unia ciência e filosofia para interpretar os evangelhos. Ivon Costa, que era poliglota, foi um dos conferencistas escolhidos por Meyer, proferindo palestras em diversos países, como Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha e França, onde discursou na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada por Allan Kardec.
Ciência, Espiritismo e o Encontro com Freud
Ivon Costa também participou do Congresso Espiritualista de Londres em 1928, onde ouviu de Jean Meyer a seguinte frase, que se tornaria uma inspiração para ele: “É pela união da Ciência com o Espiritismo, com essa fé racional que ele nos dá, auxiliando-se um ao outro, que chegaremos a uma compenetração cada vez mais justa e sempre mais elevada, da obra de Deus”.
Movido por essa ideia, o médico brasileiro buscava atualizar-se com as novidades terapêuticas da Europa, investigando a união do espiritismo com a ciência. Aconselhado por Meyer, ele se inteirou das descobertas de Sigmund Freud, cujas pesquisas sobre a histeria e o subconsciente estavam em voga. Na época, enquanto alguns médicos viam a histeria como um problema meramente orgânico, outros, como Charcot e Freud, acreditavam que ela tinha causas psicológicas, enraizadas em traumas reprimidos.
Seguindo o conselho de Meyer, Ivon Costa aproveitou sua estadia na Alemanha para visitar Freud em Viena. O encontro, no entanto, foi marcado por divergências ideológicas. Enquanto Freud era ateu, Ivon Costa era cristão, médium e reencarnacionista. Costa defendia que a histeria podia ser influenciada por memórias de vidas passadas, arquivadas no inconsciente espiritual, e que a regressão hipnótica poderia ser uma ferramenta para diagnosticá-las. Freud, por outro lado, não acreditava em reencarnação. A falta de empatia para com seus argumentos fez com que Ivon Costa desistisse de aprofundar a conversa e se limitasse a discutir a hipnose.
O Retorno ao Brasil e a Missão Espiritual
Com a morte de Jean Meyer em 1931, Ivon Costa sentiu que sua missão na Europa estava cumprida e retornou ao Brasil no ano seguinte, fixando residência em Porto Alegre. Embora sua saúde estivesse abalada, ele continuou sua jornada.
Anos antes, durante uma palestra na Alemanha, ele teve uma visão: o espírito de Leon Tolstoi apareceu e se tornou seu mentor. Na ocasião, o espírito revelou que, em sua vida passada, Costa havia sido o filósofo e religioso Giordano Bruno, que foi queimado na fogueira da Inquisição por difundir a doutrina da reencarnação.
Ivon Costa guardou essa revelação com humildade, mas passou a entender que sua vida e seus talentos, como a facilidade com idiomas e a oratória, eram uma continuação de sua encarnação anterior. Ele percebeu que um “inconsciente espiritual” o impulsionava a viajar e divulgar a doutrina espírita, e que essa vocação ia além das influências de sua infância. Assim, ele desenvolveu a tese de que o psiquismo humano é influenciado pelo inconsciente pessoal, pelo inconsciente coletivo (teoria de Jung) e pelas memórias de vidas passadas.
De volta ao Brasil, Ivon Costa clinicou em Porto Alegre, atendendo os pobres gratuitamente e, muitas vezes, doando dinheiro para a compra de remédios. Faleceu em 9 de janeiro de 1934, aos 35 anos, deixando um legado de união entre a ciência médica e a fé espírita.
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