terça-feira, 4 de fevereiro de 2020

Por Onde Andei


Schopenhauer e a Arte de Escrever

Em suas críticas, sempre muito contundentes, Schopenhauer ataca a literatura de consumo, recrimina os jornalistas, condena o hábito de ler apenas novidades deixando de lado os clássicos e faz considerações sobre a degradação da língua pela literatura decadente, diz Pedro Süssekind em seu prefácio do livro A Arte de Escrever, de Schopenhauer. "Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la", escreve Schopenhauer logo no início do seu livro "A Arte de Escrever". É sabido que Schopenhauer foi um ávido leitor de toda a literatura védica e religiosa da Índia e de todos os clássicos que os estudos acadêmicos costumam deixar de lado. Trata-se de uma crítica, vista pelo lado político e social, até injusta e descabida, fora da realidade, pois, conforme também pensa o professor Dermeval Saviani, o salário dos professores está intimamente ligado à melhoria do ensino, que, em parte ou no todo, depende da capacitação continuada dos professores. Não existe educação de qualidade sem verba adequada, nem por meio de voluntariado gratuito e do idealismo sem vínculo empregatício. Apesar de literalmente Schopenhauer profetizar, logo nas primeiras páginas do seu livro, o fim do mundo acabando em ignorância, ele defendia que a pessoa deve se ocupar com as próprias ideias, as próprias percepções e desenvolver uma autonomia cognitiva, tal qual Paulo Freire defende (em seu livro Pedagogia da Autonomia), assim como o já citado professor Dermeval Saviani também defendia (aprender a aprender), bem como tal ideia defenderam os educadores das escolas interacionistas de Lev Vygotsky e Piaget. Nesta linha de pensamento, Schopenhauer argumentava que os intelectuais da época, sobretudo na Alemanha, se ocupavam integralmente com os pensamentos dos outros e que por isso não tinham tempo para desenvolver suas próprias ideias e construir uma autonomia. E, não obstante toda a amargura e as críticas do filósofo, na questão da pedagogia da autonomia Schopenhauer tem uma opinião bastante atualizada referente ao que prega a LDB 93-94/96 para o ensino brasileiro: desenvolver no educando a autonomia e prepará-lo para o mundo do trabalho e das relações sociais.









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